“Professor Rubem Alves, por que a escola mata o grande sonho das crianças, o sonho de aprender?”
Rubem Alves – Para responder essa pergunta, eu vou contar uma história para vocês. Uns psicólogos resolveram fazer uma experiência com macacos. Puseram cinco macacos dentro de uma jaula, dentro da jaula uma mesa, em cima da mesa um cacho de bananas. Os macacos entraram lá, viram as bananas, viram a mesa e, inteligentes que são, disseram: vamos subir na mesa para comer banana. Na hora em que o macaco subiu na mesa, os psicólogos estavam preparados com uma mangueira de água gelada e deram um banho nos macacos, que não apanharam a banana. Passado um tempo, resolvem: vamos comer banana. Outro macaco subiu em cima da mesa e os psicólogos deram outro banho gelado no macaco. Eles não entenderam o que estava acontecendo. Mas, depois do quarto banho, perceberam que havia uma lógica: quando subiam em cima da mesa, vinha banho. Como não queriam tomar banho, estabeleceram, lá entre eles, o seguinte: quem tentasse subir na mesa apanhava. Então, toda vez que um macaco tentava subir na mesa, ele apanhava. As psicólogas tiraram um macaco que sabia do banho e puseram um macaco fresquinho, que nada sabia sobre o banho. Ele chegou lá, viu a banana e falou: eu vou comer banana. Na hora que ele tentou subir na mesa, os outros quatro o agarraram e deram uma surra nele. Ele não entendeu nada: achou que era um trote. Passado algum tempo, ele pensou: vou comer banana. Na hora que ele subiu na mesa, apanhou de novo. Na terceira vez que isso aconteceu, ele compreendeu: nesta jaula, macaco que tenta subir na mesa, apanha. Aí tiraram mais um macaco e puseram outro macaco fresquinho. Aconteceu exatamente a mesma coisa: quando ele tentou subir na mesa, não só os três, que já sabiam do banho, mas também o outro, que nada sabia do banho, se juntaram e deram uma sova no macaco. Aí eles foram tirando os macacos até que ficaram lá só macacos que nada sabiam do banho. Mas eles continuavam a bater nos macacos que subiam na mesa. As psicólogas brincam, dizendo: se perguntassem aos macacos por que agiam assim, eles responderiam que é porque, nesta jaula, sempre foi assim: quem sobe na mesa, apanha. Por que as escolas são do jeito que são? A resposta é: porque elas sempre foram assim. Ou seja: nós nos acostumamos desse jeito e não esquecemos. É preciso desaprender um jeito de ser escola. É preciso desaprender. Infelizmente, eu não tenho tempo para contar a vocês uma experiência que eu tive em Portugal. Lá , eu descobri uma escola inteligente, chamada Escola da Ponte. Escrevi um livrinho sobre isso, que foi publicado em Portugal, teve mensagem até do presidente da República de Portugal. Ele se chama: Escola com que eu sempre sonhei sem saber que pudesse existir. É uma escola totalmente democrática, em que as crianças tomam decisões em pé de igualdade com o diretor e com os professores. Elas aprendem de um jeito maravilhoso: não tem aula, não tem professor dando aula, o professor jamais pede silêncio. Professor não tem nada a ver com disciplina, são elas mesmas que exercem a disciplina. Então, há maneiras diferentes de ser escola, há maneiras diferentes de aprender. Eu diria o seguinte: as escolas são do jeito que são porque nós ficamos prisioneiros dos hábitos e não temos liberdade de imaginação para pensar as escolas de maneira diferente. Olha gente, está tudo na cabeça. Não se melhora a educação dando mais verba para a educação. Dinheiro é muito perigoso. Quem tem dinheiro e tem idéia ruim, só faz coisa ruim com o dinheiro. É preciso imaginação: o segredo da reforma da escola não está em lei de diretrizes, está na cabeça dos professores. Uma pessoa me pergunta: o que fazer para mudar a cabeça dos professores? Eu acho que uma das coisas são encontros como este, para mudar a cabeça dos professores. Escrevendo, eu tento mudar a cabeça dos professores. Eu acho que a única maneira de mudar a cabeça das pessoas é através da conversa e através da leitura. Essas são as únicas formas de mudar a cabeça.
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